sábado, 14 de agosto de 2010

Samhain

*postado originalmente na Coluna do Coven Animus, em abril de 2010

Este será nosso próximo Sabat, e organizando as atividades do Coven Filhos da Deusa para o mesmo, me vi mais uma vez diante da Roda da Vida, me perguntando sobre cada membro de nossa Comunidade Pagã, e seu entendimento sobre uma data tão especial, mas que possui em sua essência, um foco completamente diferente de nossa cultura ocidental religiosa, e então fica a eterna dúvida: Quem realmente está apto a participar de um Samhain? Não se trata de competência mágica, porque não tenho dúvidas quanto a nenhum de meus iniciados, mas me refiro ao fato de quantos e quais deles já conseguiram realmente romper as barreiras cristãs sobre a morte e terão um proveito espiritual sobre Samhain.
Na noite em que o véu entre os mundos está tênue, e nossos antepassados ganham as portas do nosso mundo, um Sabat, digo uma Celebração, deve ser exatamente isto, uma noite de reencontros e confraternização e não ter a nostalgia e a tristeza da morte e da perda. Sempre questionei o fato de Samhain criar a egrégora de um novo e eterno velório a cada Roda do Ano.
Na noite de Samhain, costumamos usar os mais diversos oráculos para facilitar a comunicação com o entre mundos, e o banquete aos mortos é a forma que nós usamos para expressar nosso amor, laços emocionais... Para receber e homenagear aqueles que vieram e se foram antes de nós. Não percebemos a morte como o fim, mas como uma nova forma de continuar a jornada, uma continuação natural do caminho de cada ser humano.
Assim como ao apresentar uma nova vida ao mundo espiritual, o fazemos, aos familiares deste e do outro mundo e então criamos ao recém-chegado um laço familiar que rompe as barreiras da vida e morte, em Samhain temos a oportunidade de reencontrar alguns destes laços afetivos que ultrapassaram a barreira da vida na terra. Mas considero Samhain a grande prova na vida de um pagão, pois o entendimento sobre o rito em questão não dá pra ser mais ou menos, tem que ser integral e absoluto. Algo que será vivenciado de dentro para fora. Se não, o momento perde o foco, ambos os lados perdem, e definitivamente isto não tem nada a ver com a crença pagã. Não estou dizendo que não sofremos a perda de pessoas que amamos, e que para nós tanto faz. Mas me refiro ao Mistério que mais uma vez se revela, onde nossa fé, é o que realmente sustenta a vida e sua percepção sobre ela.
Não invocamos os mortos, nós os convidamos para a Celebração do momento e não há de forma alguma a obrigatoriedade do comparecimento por qualquer dos entes queridos falecidos, cuja homenagem seja manifestada durante o rito. Também não há incorporações, como na crença espírita. Há sim, a manifestação espiritual que se dá através de portais, e a visão é para todos! O contato é para todos, a presença e manifestação são para todos, pois para nós não existe privilegiados com um dom, a Arte é para todos, a magia é para todos, a Deusa é para todos e suas bênçãos também!
Feliz Samhain a todos!
Que as bênçãos da Grande mãe, nos ilumine.
Que saudades sejam afagos!

Bruxa Luciana – Wakanda na Arte
Mestra Maior do Coven Filhos da Deusa

Pertencer a um Coven

* Publicado inicialmente na coluna Animus


Na época em que vários Covens vivem os Mistérios Eleusianos e seus processos iniciáticos pessoais para os ritos de Imbolc, junto aos alunos da Escola de Magia e Esoterismo Deusa, que solicitam sua entrada no Coven Filhos da Deusa, Tradição Imortais da Terra, trabalhamos exaustivamente o significado e principalmente os dogmas que envolvem a verdade sobre pertencer a uma congregação religiosa pagã, hoje denominada por todos nós tão amplamente como Coven.
Primeiramente vamos ao significado do dicionário: Coven é o termo que denota um grupo de pessoas praticantes de Wicca ou Bruxaria. Significa concílio, congregação de Bruxos e Magos. Tradicionalmente os Covens são compostos por treze membros de vários graus, com reuniões regulares, celebrações de Sabats e Esbats e Rituais diversos.
Mas o que significa realmente pertencer a um Coven? Algumas cabeças dizem que um Coven pode ser sua segunda família, ou até muitas vezes ter um papel em nossas vidas, bem maior que nossa própria família de origem.
Penso que a Bruxaria Contemporânea é uma rica árvore com infinitas orientações e tradições. O número pequeno de membros possibilita a integração íntima entre os participantes. O amor pela vida e tudo que ela gera, rege a ética na Bruxaria. Nós honramos a vida e o ciclo vital. A Arte entende que a vida se alimenta de vida. Entendemos o ciclo natural e o aceitamos, e é preciso ter claro que este ciclo é, acima de tudo, energético. Servimos a força da vida e a defendemos.
Não vemos a justiça como uma força externa administrada por uma única razão. Não há regras ou predeterminações. Há sim um sentimento interno, de que cada ato produz consequências e que seu retorno é multiplicado. A Arte não valoriza a culpa, não julga, não censura, não discrimina e não odeia. A Arte valoriza a responsabilidade. É fácil compreender e quase impossível não falhar.
Minha humilde opinião é a de aceitarmos as regras da natureza que são milenares. Não da paisagem viva e bela que passa a falsa impressão de um conto de fadas, mas sim do ciclo de sobrevivência que ela emana, força, vida, morte, vontade e criação. Observe os animais, compreenda a sabedoria dos índios, aprenda com as crianças.
Defendemos a vida humana, afinal somos da mesma espécie, embora hoje nosso comportamento baseado em novas éticas ocidentais deturpadas faça com que alguns de nós gerem um amor paralelo e surreal a nossa humanidade. Curamos e não questionamos, apenas curamos. Transformamos, não temos medo, apenas transformamos. Acreditamos, não julgamos, acreditamos... Ou seja, amamos; amamos o planeta, a vida sobre ele. Compreendemos o ciclo evolutivo e o preservamos.
Já vivi e frequentei Covens, onde Rituais geravam tamanho envolvimento dos seus membros, que tornava impossível separar energias e sensações. Mas é um caminho difícil, para a maioria de nós esta experiência, precisa primeiro livrar-se dos caminhos pessoais de orgulho e vaidade. Só então será possível torná-lo real.
Acredito que a principal dificuldade de viver um Coven esteja em nossa cultura religiosa ocidental, que mesmo em outras religiões de cunho pagão, é comum o intermediário humano, visível, hierárquico entre os deuses e a magia. E assim, a maioria dos Grandes Sacerdotes ou Mestres Maiores, costumam assumir também uma postura de líder familiar, e muitas vezes cometendo os mesmos erros religiosos cristãos, retendo o poder e o conhecimento, muitas vezes por pura proteção, como uma mãe que protege seus filhos da fogueira que os aquece, para que não se queimem. Quando na verdade um Coven é acima de tudo uma Irmandade e sendo assim, os deuses estão para os Mestres e Altos Sacerdotes, exatamente da mesma forma que a seus seguidores. Por isso desconfie de super-iluminados, quase profetas da nova era, que mantém pose de inabaláveis, e de superiores na Arte. Um verdadeiro líder na Arte é líder porque a idade talvez espiritual somente, mas a ancianidade lhe garante este cargo, pois a sabedoria de vida é a verdadeira autoridade em nossa filosofia de vida. Mas esta pessoa tem que ser humana, uma comunidade pagã vive em perfeito amor e confiança, e isto inclui seus Mestres e Altos Sacerdotes, dividimos vinho, pão, risos, danças, lágrimas, dores, puxões de orelha que levamos dos Deuses, e também as honrarias. Brincamos, sentimos e aprendemos juntos. Enfim, vivemos como irmãos.
Sempre repito aos Deuses e aos meus Mestres Menores, Iniciados, Aprendizes, Consagrados e agora aos novos Adornados, que o dia que assim não o for não seremos mais pagãos. A liderança está na forma pessoal que este Mestre ou Alto Sacerdote terá em seu trabalho com a Arte, pois embora exista um Conselho de Mestres para todas as resoluções dentro do Coven, é normal o trabalho mágico, energético e espiritual seguir o formato das experiências do Mestre Maior ou Alto Sacerdote.
A Bruxaria NÃO busca adeptos. Não pregamos. A iniciativa tem que ser sempre espontânea, através da busca por conhecimento ou interesse pessoal é que o novo adepto chega ao Coven. Originalmente, os líderes dos Covens, eram professores da Arte, ou Sacerdotes de suas comunidades Pagãs. Hoje ainda é assim, os Covens se formam por uma necessidade e não por um objetivo. É comum e necessário para o resgate da Deusa, que líderes formem grupos, como intuito de resgatar a verdadeira essência de nossa Religião.
Porém também é comum encontrar pessoas que se dizem Bruxos, mas são verdadeiras aberrações. Tome cuidado com qualquer coação ou tentativa de persuasão.
Claro que é preciso sobreviver, e quem opta em trabalhar com a Bruxaria, torna-se Mestre professor, leitor de runas, Tarólogo, Astrólogo, Numerólogo, Cristaloterapeuta, Cromoterapeuta e infinitos outros profissionais holísticos e é justo que recebam por suas horas de trabalho.
Mas a Bruxaria não cobra dinheiro para alguém participar de um Coven (não há mensalidades), ou para uma Iniciação, por exemplo, e é considerado transgressão ética cobrar para passar um Mistério. Por isso cada vez é mais comum que se organizem escolas para que os cursos sejam ministrados, pois entendemos que deve haver tempo, conhecimentos adquiridos, custos com material, horas de trabalho e dedicação para que tais aulas aconteçam. E todo Coven que mantém seu trabalho direcionado ao estudo, acaba perdendo em prática, pois é preciso conhecimento para vivenciar a prática, mas é importante a prática para se ter a mágica.

Bruxa Luciana – Wakanda na Arte
Mestra Maior do Coven Filhos da Deusa
Tradição Imortais da Terra de Bruxaria Contemporânea

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sexta-feira, 13 de agosto

Existem vários motivos para a energia sombria do mês de agosto. E, especialmente em nosso hemisfério, a particularidade é mais que sobrenatural.
Primeiro que a evolução econômica, não nos libertou da egrégora em que agosto era a época de muito sacrifício, pois quando dependíamos de plantar para comer, ou da caça para carne e o sustento era exclusivamente paralelo ao ciclo sazonal do planeta, agosto era a personificação da fome e do sacrifício nas aldeias e colônias de nossos antepassados. É fácil entender como esta energia se perpetuou, pois até hoje repetimos frases desta época como verdades populares, como: Se passar de agosto, vive mais um ano! Agosto é o mês do cachorro louco! Agosto mês do desgosto!
Em uma época de comida escassa era essencial a sobrevivência que a pouca comida fosse prioridade dos mais novos, que poderiam continuar a existência do povo e não dos animais, que enlouqueciam e morriam de fome ou dos idosos que não poderiam trabalhar ou caçar para fazer valer sua vida!
Hoje estes pensamentos podem nos chocar, mas a realidade social é outra, e não estamos aqui comparando valores e sim diferenciando culturas.
Já o dia 13 de agosto é mundialmente o momento das celebrações a Deusa Hécate, padroeira de todos os bruxos, Deusa das encruzilhadas, dos destinos e eleita Rainha das Feiticeiras. Contam suas lendas que em diversos momentos ela ajudou os deuses do Olimpo e de diversas outras culturas religiosas a resolverem problemas na Terra. Perpetuou sua identidade na evolução religiosa da humanidade, trocando de face, de nome, mas não sucumbiu ao patriarcado.
A origem da sexta - feira 13 começou no dia 13 de outubro de 1307, quando a Ordem dos Templários, Cavalheiros em Honra ao Santo Graal, e protetores do Sagrado Feminino foi condenada a morte por heresia pela Igreja Católica e todos foram torturados e executados. As ordens vieram do Papa Clemente V, juntamente com o Rei Filipe IV da França. Foi o primeiro Golpe Politico contra as Sociedades Ocultas.
Por isso em agosto, e especialmente nesta sexta-feira 13, as bruxas estarão novamente as soltas sobre a face do planeta Terra, eu vou estar lá e você pode ter certeza que em algum momento de sua jornada também já esteve ou estará!
Que assim seja, que assim se faça, que assim se cumpra!
Bruxa Luciana Machado – Mestre Maior Wakanda do Coven Filhos da Deusa
Tradição Imortais da Terra de Bruxaria Contemporânea.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bruxas Contemporâneas

Elas estão por todo lugar...
As Bruxas!!!
Mas quem são estas mulheres? No que elas acreditam?
Sei tudo sobre elas! Vou te contar...
Como sei?
Sou uma Bruxa


A Bruxaria é uma religião com base no Ciclo Sazonal do Planeta, isto é, vivenciamos o ciclo das estações. Acreditamos em uma Força Universal Geradora e suas duas potências, opostas e eternamente complementares. Nossa Trindade Divina refere-se a Grande Mãe Geradora de Vida... Gaia, e suas duas emanações, o principio feminino e o masculino...
O Culto ao Divino Feminino ressurge. Ele está de volta reestruturado e repaginado é verdade. Mas sua principal mudança está em seu centro, seu foco, ou seja, nós.
Creio na verdade que ele sempre esteve presente, sempre existiu, em maior ou menor intensidade na cultura humana. Seu culto esteve adormecido, e agora ressurge.
São muitos os olhares da Grande Mãe sobre seus filhos.
E assim como ela nos permitiu escolhas pela história da civilização, e mesmo quando nós sua própria obra, lhe viramos as costas e ao seu amor, Ela permaneceu ali, nos acolheu, cuidou, nutriu e se preservou de nossas investidas contra suas outras criações. Sua sobrevivência nos custou muitas transformações e adaptações, mas sua essência continua intacta.
A Bruxaria é uma religião com base no ciclo sazonal do planeta, isto é, vivenciamos o ciclo das estações. Acreditamos em uma força universal geradora e suas duas potências, opostas e eternamente complementares. Nossa trindade Divina se refere a Grande Mãe Geradora de vida, e suas emanações, o princípio feminino e masculino. A partir Dela tudo começou a se formar e a ter forma, o mundo começou a se estruturar.
Nossa ancestralidade matrifocal, deixou a semente da essência feminina, que adormeceu durante o caminho do patriarcado, mas que, ao contrário do que se pensou, continuou viva. Acredito hoje que sua hibernação proposital na verdade serviu-lhe de laboratório para os novos frutos que hoje começamos a colher. Ela nos entregou a liberdade de nossas escolhas, os novos caminhos espirituais, e da mesma forma cuidou para que encontrássemos o caminho de volta ao seu colo. E agora um novo século, trouxe novos rumos a velhos caminhos.
O Neo-Paganismo é a semente adormecida da Deusa no coração da Terra e da humanidade que agora novamente brota e espalha-se pelo planeta. A busca da humanidade pela consciência espiritual é a retomada das jornadas espirituais internas, hoje renomeadas Autoconhecimento.
A Religião que perdeu seu real valor, tendo o seu principal objetivo distorcido, serve-nos hoje de plataforma de ideias e convicções e ainda pior, por vezes é usada para disfarçar o preconceito, a intolerância e a discriminação, vamos rumo ao abuso de poder.
Resgatar a Antiga Religião não é de forma alguma, pregar Dogmas Antigos e muito menos desconsiderar a evolução espiritual de nosso planeta. Resgatar a Antiga Religião é retomar o caminho de ligação ao Divino, e com certeza isto inclui a experiência espiritual adquirida pela humanidade ao longo dos séculos.
Não há como ignorar a sabedoria, o conhecimento e a eficácia de outras religiões. Basta abrir as janelas para o Divino e reconheceremos Rituais Ancestrais, onde muda somente os traços pessoais do Artista que os transcreve em sua tela da vida. A própria atividade mágica, nos mostra diariamente a energia espiritual de outras crenças, atuando ao nosso lado e interagindo com nossa magia. Não considerar a união de experiências e os vários caminhos que levam ao Divino é repetir o erro do passado. Não precisamos combater outras religiões e nem queremos impor a nossa, pois reconhecemos as varias faces de nossa Deusa.
A Bruxaria Contemporânea também é a união do esforço do planeta para uma mudança de consciência. Eu faço parte disto e você também.
Em 1924 Vênus, uma das representações da Grande Mãe, cultuada mundialmente entre diversas culturas e religiões, se aproximou da Terra de forma muito expressiva. Esta aproximação tornou-se um dos marcos da emersão do Princípio Feminino de Criação. Mulheres de todo mundo, estão se tornando ativas espiritualmente. Buscamos o equilíbrio entre o masculino e o feminino. Não queremos combater o patriarcado, mas iniciar uma nova era onde caminharemos juntos. Para tal precisamos resgatar a psique feminina, através de uma jornada profunda de transformação interna.
É uma honra ser mulher e estar viva, no momento exato deste despertar. Este é um fenômeno mundial e nos seus mais diversos contextos culturais e sociais.
A Religião da Deusa é diferente das outras em seu olhar, pois nós costumamos dizer que não acreditamos na Deusa e sim somos parte dela. Somos parte de um Divino e o principal caminho para nossa evolução, precisamos resgatar nosso Divino interior.

Bruxa Luciana Machado - Wakanda na Arte
Coven Filhos da Deusa
Tradição Imortais da Terra – Bruxaria Contemporânea