sábado, 14 de agosto de 2010

Pertencer a um Coven

* Publicado inicialmente na coluna Animus


Na época em que vários Covens vivem os Mistérios Eleusianos e seus processos iniciáticos pessoais para os ritos de Imbolc, junto aos alunos da Escola de Magia e Esoterismo Deusa, que solicitam sua entrada no Coven Filhos da Deusa, Tradição Imortais da Terra, trabalhamos exaustivamente o significado e principalmente os dogmas que envolvem a verdade sobre pertencer a uma congregação religiosa pagã, hoje denominada por todos nós tão amplamente como Coven.
Primeiramente vamos ao significado do dicionário: Coven é o termo que denota um grupo de pessoas praticantes de Wicca ou Bruxaria. Significa concílio, congregação de Bruxos e Magos. Tradicionalmente os Covens são compostos por treze membros de vários graus, com reuniões regulares, celebrações de Sabats e Esbats e Rituais diversos.
Mas o que significa realmente pertencer a um Coven? Algumas cabeças dizem que um Coven pode ser sua segunda família, ou até muitas vezes ter um papel em nossas vidas, bem maior que nossa própria família de origem.
Penso que a Bruxaria Contemporânea é uma rica árvore com infinitas orientações e tradições. O número pequeno de membros possibilita a integração íntima entre os participantes. O amor pela vida e tudo que ela gera, rege a ética na Bruxaria. Nós honramos a vida e o ciclo vital. A Arte entende que a vida se alimenta de vida. Entendemos o ciclo natural e o aceitamos, e é preciso ter claro que este ciclo é, acima de tudo, energético. Servimos a força da vida e a defendemos.
Não vemos a justiça como uma força externa administrada por uma única razão. Não há regras ou predeterminações. Há sim um sentimento interno, de que cada ato produz consequências e que seu retorno é multiplicado. A Arte não valoriza a culpa, não julga, não censura, não discrimina e não odeia. A Arte valoriza a responsabilidade. É fácil compreender e quase impossível não falhar.
Minha humilde opinião é a de aceitarmos as regras da natureza que são milenares. Não da paisagem viva e bela que passa a falsa impressão de um conto de fadas, mas sim do ciclo de sobrevivência que ela emana, força, vida, morte, vontade e criação. Observe os animais, compreenda a sabedoria dos índios, aprenda com as crianças.
Defendemos a vida humana, afinal somos da mesma espécie, embora hoje nosso comportamento baseado em novas éticas ocidentais deturpadas faça com que alguns de nós gerem um amor paralelo e surreal a nossa humanidade. Curamos e não questionamos, apenas curamos. Transformamos, não temos medo, apenas transformamos. Acreditamos, não julgamos, acreditamos... Ou seja, amamos; amamos o planeta, a vida sobre ele. Compreendemos o ciclo evolutivo e o preservamos.
Já vivi e frequentei Covens, onde Rituais geravam tamanho envolvimento dos seus membros, que tornava impossível separar energias e sensações. Mas é um caminho difícil, para a maioria de nós esta experiência, precisa primeiro livrar-se dos caminhos pessoais de orgulho e vaidade. Só então será possível torná-lo real.
Acredito que a principal dificuldade de viver um Coven esteja em nossa cultura religiosa ocidental, que mesmo em outras religiões de cunho pagão, é comum o intermediário humano, visível, hierárquico entre os deuses e a magia. E assim, a maioria dos Grandes Sacerdotes ou Mestres Maiores, costumam assumir também uma postura de líder familiar, e muitas vezes cometendo os mesmos erros religiosos cristãos, retendo o poder e o conhecimento, muitas vezes por pura proteção, como uma mãe que protege seus filhos da fogueira que os aquece, para que não se queimem. Quando na verdade um Coven é acima de tudo uma Irmandade e sendo assim, os deuses estão para os Mestres e Altos Sacerdotes, exatamente da mesma forma que a seus seguidores. Por isso desconfie de super-iluminados, quase profetas da nova era, que mantém pose de inabaláveis, e de superiores na Arte. Um verdadeiro líder na Arte é líder porque a idade talvez espiritual somente, mas a ancianidade lhe garante este cargo, pois a sabedoria de vida é a verdadeira autoridade em nossa filosofia de vida. Mas esta pessoa tem que ser humana, uma comunidade pagã vive em perfeito amor e confiança, e isto inclui seus Mestres e Altos Sacerdotes, dividimos vinho, pão, risos, danças, lágrimas, dores, puxões de orelha que levamos dos Deuses, e também as honrarias. Brincamos, sentimos e aprendemos juntos. Enfim, vivemos como irmãos.
Sempre repito aos Deuses e aos meus Mestres Menores, Iniciados, Aprendizes, Consagrados e agora aos novos Adornados, que o dia que assim não o for não seremos mais pagãos. A liderança está na forma pessoal que este Mestre ou Alto Sacerdote terá em seu trabalho com a Arte, pois embora exista um Conselho de Mestres para todas as resoluções dentro do Coven, é normal o trabalho mágico, energético e espiritual seguir o formato das experiências do Mestre Maior ou Alto Sacerdote.
A Bruxaria NÃO busca adeptos. Não pregamos. A iniciativa tem que ser sempre espontânea, através da busca por conhecimento ou interesse pessoal é que o novo adepto chega ao Coven. Originalmente, os líderes dos Covens, eram professores da Arte, ou Sacerdotes de suas comunidades Pagãs. Hoje ainda é assim, os Covens se formam por uma necessidade e não por um objetivo. É comum e necessário para o resgate da Deusa, que líderes formem grupos, como intuito de resgatar a verdadeira essência de nossa Religião.
Porém também é comum encontrar pessoas que se dizem Bruxos, mas são verdadeiras aberrações. Tome cuidado com qualquer coação ou tentativa de persuasão.
Claro que é preciso sobreviver, e quem opta em trabalhar com a Bruxaria, torna-se Mestre professor, leitor de runas, Tarólogo, Astrólogo, Numerólogo, Cristaloterapeuta, Cromoterapeuta e infinitos outros profissionais holísticos e é justo que recebam por suas horas de trabalho.
Mas a Bruxaria não cobra dinheiro para alguém participar de um Coven (não há mensalidades), ou para uma Iniciação, por exemplo, e é considerado transgressão ética cobrar para passar um Mistério. Por isso cada vez é mais comum que se organizem escolas para que os cursos sejam ministrados, pois entendemos que deve haver tempo, conhecimentos adquiridos, custos com material, horas de trabalho e dedicação para que tais aulas aconteçam. E todo Coven que mantém seu trabalho direcionado ao estudo, acaba perdendo em prática, pois é preciso conhecimento para vivenciar a prática, mas é importante a prática para se ter a mágica.

Bruxa Luciana – Wakanda na Arte
Mestra Maior do Coven Filhos da Deusa
Tradição Imortais da Terra de Bruxaria Contemporânea